A)
Descrição arquitectónica
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O castelo de Santa Maria da Feira é
um dos mais notáveis monumentos portugueses quanto à forma como
espelha a diversidade de recursos defensivos utilizados entre os séc.
XI e XVI e que o torna peça única da arquitectura militar
portuguesa.
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Do
antigo castro romano, e depois fortaleza ampliada na época da
reconquista cristã, restam dele hoje, apenas o 1º piso da “Torre
de Menagem”.
D.
Sancho I, deixou-o, por testamento, a suas filhas. - Mais tarde
(1300) foi incluído no património da Rainha Santa Isabel.
No séc. XV (1448) o Rei D. Afonso V entregou-o a Fernão
Pereira com a incumbência de o fazer restaurar. Data desta época a
imagem arquitectónica essencial que ele hoje apresenta.
Em
12 de janeiro de 1472, o mesmo Rei nomeou o filho daquele, Rui Vaz
Pereira, 1º conde da Feira, senhor do Castelo e da Terra de Santa
Maria. Com a morte sem descendência do último conde (1700), o
Castelo passou à casa do Infantado (1708). Em 1722 o Palácio dos
condes, construído dentro das muralhas, e a Torre de Menagem
sofreram um violentíssimo incêndio – ao que se diz por ordem do
próprio rei D. João V – receoso das ambições de seu irmão, o
infante D. Francisco.
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Com
o declínio da importância militar do Castelo foi este adaptado a
paço senhorial. No séc. Xv, porém, todo o monumento voltou a
sofrer grande remodelação no campo defensivo motivada pelo
aparecimento de novo tipo de armamento (utilização da pólvora). |
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É
desta época, também, a construção, dentro da cerca, do primeiro
palácio, palácio este que veio a ser substituído, no séc. XVII
por uma nova construção (demolida em 1929), o embelezamento
exterior e a construção da fonte. |
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Porta
da Vila e Barbacã
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A entrada do castelo faz-se pela
chamada “porta da vila” protegida por uma barbacã. Esta entrada
leva à “cerca avançada” ou “praça de armas” que conduz,
pelo lado norte, à torre de menagem.
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Praça
de Armas
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Este grande espaço interior,
circundado pelo chamado “caminho da ronda”
ou adarve é protegido por um forte dispositivo de ameias e
troneiras.
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Torre
de Menagem
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Esta torre, com um grande eirado na
cobertura, compõe-se de dois pisos. Grandes lareiras revelam o
caracter residencial que o Castelo teve. |
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Torre
do Poço
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Junto à torre de menagem, pelo lado
nascente, está a “torre do poço” que é uma construção do séc.
XV toda em granito e
com 8 janelas fechadas, formando nichos, com acesso pelo exterior
com 136 degraus.
O
poço tem 33,5 metros de profundidade e nascente própria.
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Tenalha
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Através
de uma passagem coberta protegida por seteiras, chega-se à tenalha
que é uma pequena obra de fortificação para proteger a torre de
menagem, do lado sul. A forma da sua construção supõe o uso de
armas de fogo.
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Torre
da Casamata
Do
lado poente foi montado este recinto defensivo, ao nível térreo,
com bombardeiras e besteiras dispostas de forma eficaz para
assegurar o tiro em todas as direcções.
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Capela
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Junto
à barbacã encontra-se um interessante conjunto constituído por
uma capela hexagonal e casa do capelão, mandados edificar em 1656.
A
referida capela veio substituir uma ermida muito antiga, entretanto
demolida.
Da
antiga ermida transitaram para a actual capela um precioso núcleo
de imagens de pedra de ançã.
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B)
Breve resenha Histórica
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Quando em meados do séc. IX Afonso
III de Leão criou a região administrativa e militar a que deu o
nome de Terra de Santa Maria, a sua chefia foi entregue a uma
fortaleza militar ali existente, a Cívitas Sanctae Mariae.
Durante
muitos anos esta fortaleza funcionou como base avançada das tropas
da reconquista cristã e como sentinela contra as invasões árabes
vindas do sul.
Por
duas vezes, no ano 1000, Almansor – o lendário guerreiro árabe
– conquistou o Castelo e arrasou a povoação anexa. E por duas
vezes, também, os guerreiros e habitantes cristãos reconquistaram
a fortaleza, reconstruíram a povoação e lhe mantiveram o nome de
Civitas Sancta Mariae.
Isto
atesta bem a coragem e a firmeza das convicções religiosas
daquelas gentes.
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No reinado de Bermudo III ( 1028 a
1037) os guerreiros árabes invadiram de novo esta zona, mas foram
de rechaçados na batalha de Cesár numa povoação que ainda hoje mantém este nome e
está situada nas proximidades do Castelo. Os governadores de então
- Men Guterres e Men Lucídio desenvolveram depois um trabalho
gigantesco para reconstrução do Castelo e desenvolvimento da Terra
de Santa Maria. Por este facto, os reis leoneses distinguiram uma
grande parte da população com mercês especiais: - a “Honra
de Infanções”, para se avaliar da importância deste
título, basta recordar que só no séc. XIV obtiveram idêntico
privilégio os “juizes, almotaceis, corregedores e vereadores”
da cidade de Lisboa.
Na
carta régia de 10 de abril de 1423, que atribuiu estas mercês,
alude-se expressamente ao intento de equiparação aos “infanções
da Terra de Santa Maria”.
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Durante largos anos, a “Terra de
Santa Maria” foi “terra de fronteira” com os árabes. Só
depois da conquista de Coimbra (1067) este território deixou de ser
“zona de guerra”. Mas não foi, também, “zona de paz” tal
como sucedia com as povoações a norte do Douro. Depois daquela
conquista de Coimbra, aquele território, funcionou como o grande “viveiro”
de cavaleiros e de peões que alimentava a frente sul. Isto só foi
possível, porém, pelo caracter permanente da organização
militar instalada na “Terra de Santa Maria”.
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Após a morte do conde D. Henrique,
senhor do Condado Portucalense, a viúva, D. Teresa, deixou-se
envolver com um fidalgo galego, Fernão Peres de Trava, ao serviço
do Arcebispo de Compostela D. Diogo Galmirez, que tinha a intenção
de submeter ao controle da Galiza o Condado Portucalense. Como
guarda avançada, tinham vindo para o Condado, especialmente para o
Porto – onde Fernão de Trava governava já – grandes migrações
galegas. Com o tempo, a pequena burguesia portucalense começou a
ser substituída por gentes da Galiza. Mais tarde, o ataque económico
e administrativo estendeu-se aos grandes senhores de terras e de
poder, quer a norte, quer a sul do Douro. Assim sucedeu às famílias
Moniz, de Riba Douro (Ermígio, Mendo e Egas), Sousas (da Maia), Nuno
Soares (de Grijó) e à família de Pero Gonçalves (de Marnel).
Estas famílias, que tinham vastas propriedades quer no Alto Minho,
Lamego, quer na Terra de Santa Maria, foram sendo confrontadas com a
ameaça de perderem tudo- cargos, prestígio, e bens – por intervenção
de uma campanha orquestrada do exterior, primeiramente subtil e,
depois frontal.
Dentro
destas famílias notáveis, é justo destacar dois nomes: Ermígio
Moniz e Pero Gonçalves do Marnel.
O
primeiro, ao tempo de revolta dos barões
portucalenses, era alcaide do Castelo de Neiva. Antes tinha sido
afastado do governo da Terra de Santa Maria e da alcaidaria do
Castelo. Figura muito próxima do Infante D. Afonso, era irmão do
célebre Egas Moniz, que também tinha sido afastado da Terra de
Lamego.
O
segundo, Pero Gonçalves de Marnel, tinha
sido substituído no governo de Coimbra pelo próprio Fernão Peres
de Trava. Ao tempo da revolta (1127/1128) era governador da Terra de
Santa Maria e alcaide do Castelo do mesmo nome.
O
galego Fernão Peres de Trava ocupava assim o governo dos dois pólos
fundamentais do Condado Portucalense – o de Portucale e de
Coimbra.
Uma
hora houve em que estas famílias resolveram juntar-se e
revoltar-se. A este movimento de revolta esteve ligado o Infante D.
Afonso que, também, não via com bons olhos a situação da mãe e
que começava a temer pelo futuro que lhe estava a ser reservado.
Ele, que, ao tomar a iniciativa de se armar cavaleiro, por si próprio,
em Zamora, estava a usar de uma prerrogativa reservada somente aos
filhos de reis...
Com
o poderio da sua força militar organizada, com o apoio da pujança
da sua vida económica e com o estímulo do sentimento de independência
de que já desfrutavam, os homens de Santa Maria avançaram para
Guimarães – então capital do poder político – e onde o
Infante D. Afonso se encontrava já a mobilizar as gentes daqueles sítios.
Ermígio
Moniz, a norte do Douro e a partir do Castelo de Neiva, para lá se
dirigiu também com as suas forças. Para a mesma cidade de Guimarães
convergira Fernão Peres de Trava com as tropas de Coimbra, apoiado
com o reforço das forças galegas que a ele se juntaram no Castelo
de Lanhoso.
Em
13 de Junho de 1128 as tropas galegas foram vencidas. Esta batalha -
indiscutível marco da história pátria - não foi, pois, a causa
da nossa independência, mas a consequência de um movimento
independentista de caracter colectivo e abrangendo uma grande área
do Condado quer a norte quer a sul do Douro. A tentativa, por parte
da Galiza de extinguir rapidamente o movimento independentista
latente acabou por precipitar a mesma independência.
Neste
movimento militar intervieram, pois, com indiscutível influência
dois personagens fortemente ligados à Terra e ao Castelo de Santa
Maria: Pero Gonçalves de Marnel e Ermígio Moniz.
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